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METODOLOGIA

A Operação Cascas é parte do Projeto Nasce Uma Cidade do Coletivo Teatral Sala Preta e está integrada às ações do Núcleo À Margem, coordenado pelo ator Rafael Crooz, sob a orientação da historiadora Alejandra Estevez. Serão aplicadas bases de diferentes metodologias e processos de pesquisa na condução que toma documentos oficiais, entrevistas, depoimentos e pesquisas a respeito da tortura de trabalhadores, religiosos e militantes sindicais, além da tortura e morte de soldados do Exército dentro do 1o Batalhão de Infantaria Blindada (1o BIB) de Barra Mansa e seu posterior silenciamento da memória da cidade, transformando-o em 22o Batalhão de Infantaria Motorizada, na sequência em Tiro de Guerra e posteriormente, adquirido pela prefeitura municipal, transformando-o em Parque da Cidade. A transformação do lugar de barbárie em lugar de memória (ou desmemória, as memórias foram enterradas!), ou um Parque, é o eixo constitutivo de uma narrativa que abraça as relações da estrutura repressiva do Estado, inclusive posteriormente a abertura do regime militar para o democrático. O 1o BIB foi criado na década de 1950 concomitantemente com à criação da CSN com o intuito de controlar os trabalhadores, manter a ordem e zelar pelo patrimônio nacional.

O espaço passou por um esquecimento induzido durante os anos 1990 sendo transformado em centro de lazer dos habitantes de Barra Mansa. Atualmente, o espaço está esvaziado de sentido mas transbordando de significados. A desativação do 1o BIB e a posterior criação do Parque da Cidade evidenciam as iniciativas do agentes do terrorismo de Estado cujo intuito foi ocultar, silenciar, apagar o passado de violência e sofrimento de que aquele espaço havia sido palco décadas antes.

Os monumentos e locais que lembram as atrocidades do passado e as violações de direitos humanos são espaços de luto e, em alguns casos, são veículos de cura para as vítimas, servindo, ainda, para a cultura de direitos humanos, atendendo à finalidade de educar a comunidade de proporcionar reflexões que conduzam à não-repetição.

Portanto, a iniciativa de uma pesquisa artística e sensível com uma característica anfíbio-cênica, costurando referências como os relatórios das comissões da verdade nacional, estadual do Rio de Janeiro e municipal de Volta Redonda, além do Termo de Ajuste de Conduta (TAC), e textos de  autores pesquisadores como Didi Huberman, Kenneth Serbin, Célia Maria Leite Costa, Dulce Chaves Pandolfi, Alejandra Estevez, Jacques Ranciere, Flávio Tavares, Máximo Gork, Renato Tapajós, Sandra Mayrink Veiga, Isaque Fonseca, Michel Foucault , André Mesquita, aliados à metodologias de técnicas teatrais como de Augusto Boal, Eugênio Barba, Anne Bogart, Hans- Thies Lehman, Bertold Brecht, entre outros, formam uma base de contexto para discutir os limites em dar visibilidade a estes conteúdos, além de discutir um lugar de fala destes agentes culturais na transformação do espaço em local de memória e, por fim, expõe a urgência de se estabelecer políticas efetivas para a reparação e o direito à memória das vítimas das violações graves aos direitos humanos.

Esta iniciativa foi animada pela criação do Centro de Memória do Sul Fluminense vinculado à UFF-VR e pela provocação do Sala Preta na contínua construção de novas narrativas para a reconstrução da memória da cidade de Barra Mansa, abrangendo a região do Médio Paraíba Fluminense, desde as Agulhas Negras ao Vale do Café.

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