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A AÇÃO

O Núcleo À Margem, idealizado e formado por ex-alunos do Curso Sala Preta de Teatro em 2015, resolve transformar os processos metodológicos, discursivos e estéticos do Nasce Uma Cidade em uma profunda ação de reconstrução de memória, neste ano com foco na colaboração para a efetivação do Centro de Memória às vítimas da violência de Estado entre os anos de chumbo em Barra Mansa. O Projeto Nasce Uma Cidade 2017 - Operação Cascas visa suavizar de forma poética e tornar acessível ao público em geral as memórias sensíveis relacionadas às histórias que não são ouvidas, atentando-se ao lugar de fala destes artistas, aos limites em dar visibilidade ao tema e expor a urgência da aplicação de uma política de memória.

     São incontáveis os esforços de representantes do Estado, antes e durante o recente período de redemocratização do país, para o apagamento e o silenciamento de memórias ainda sensíveis nas cidades que sofreram forte repressão durante o período militar no Brasil, e Barra Mansa, é uma delas. A sentença em processo judicial militar que condenou militares investigados no Processo n. 17/82, representa um reconhecimento pela ditadura militar da prática de torturas no antigo quartel e seus respectivos escombros autoritários. Os direitos humanos, as comissões da(s) verdade(s) e o direito à verdade tornaram possíveis o acesso à memória e a sua afirmação no sentido de que a opressão de Estado não seja esquecida para que não seja repetida. Considerando que a história de um povo se constrói a partir das partes constituidoras da memória coletiva, o direito à liberdade - princípio contraditório defendido por diferentes linhas de pensamentos e ideologias - é exposto e reafirmado em âmbito regional, porém com um impacto nacional, no Termo de Ajuste de Conduta firmado entre a Prefeitura de Barra Mansa e o MPF-VR. Após considerar uma série de direitos, documentos internacionais e fatos históricos, o procurador Júlio José Araújo Júnior resolve recomendar ao município de Barra Mansa que adote todas as medidas necessárias para afetar a área correspondente ao antigo quartel do 1o BIB/22o BMTz/TG como um centro de memória em favor às vítimas da ditadura militar. Essa iniciativa se consolidou com o TAC assinado no dia 13 de dezembro de 2016.

     A Operação Cascas se faz necessária ao observarmos a carência de difusão de informações sobre o assunto. Na cidade de Petrópolis, o local de tortura ficou conhecido como Casa da Morte, em Barra Mansa, transformou-se em Parque da Cidade. A Assembleia Geral da ONU, em 2010, estabeleceu o direito à verdade como um direito humano fundamental, pleno e completo, de conhecimento sobre as graves violações de direitos humanos, crimes de guerra, genocídio ou crimes contra a humanidade, como uma necessidade para a consolidação da paz. O documento cita também que sejam celebradas parcerias com instituições públicas e entidades privadas comprometidas com os direitos humanos e com a memória e a verdade para a montagem do referido centro, levando em consideração a perspectiva das vítimas.

      Visando o cumprimento destas e outras afirmações, este conjunto de ações promovido por diferentes atores sociais fazem uso da história pública hibridizando estratégias para o uso de diferentes linguagens. Isto se dá por meio de outras manobras e novas lógicas para renomear as coisas e o estado de coisas, ao redor do que percebemos como a teatralidade e suas funções no processo de convivência coletiva e organização da sociedade. As pesquisas realizadas pelo Centro de Memória do Sul Fluminense, vinculado ao Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFF e os relatórios das comissões da(s) verdade(s) provocaram reflexões mais amplas sobre democracia, autoritarismo, direitos humanos, liberdade, justiça, cidadania e a própria definição de crimes de lesa humanidade. Com essa Operação espera-se colaborar em diferentes dimensões para a superação de um passado que teima em não passar e a sociedade teima em não temer.

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