top of page

HISTÓRICO*

Mais do que reafirmação, o Sala tem se dedicado à (re)construção da memória dos pertencimentos da cidade. História não é apenas memória. Percebe-se que os barramansenses não se apropriam de sua história. A memória é afetiva, é quente e a história é fria. Em tese a história é uma interpretação, uma narrativa do passado. Nem todo mundo constrói história, mas todo mundo produz memória. A história tem métodos, teorias, fontes. Tudo isso que é exigido para construir a História. A memória não tem o compromisso com a cientificidade, é uma trama tecida por muitas ações que envolvem subjetividades, sentimentos.

 

 

Gravura de Clécio Penedo - 1968

Recordar vem do atravessar o coração outra vez (re-couer-dare). O Sala Preta está inserido diretamente na articulação da construção de políticas públicas, de atuações junto às escolas, às universidades, às ruas, à cultura, à Arte. Porque sabe-se pouco sobre a cidade!? Neste sentido nos apropriamos de Victor Hugo, escritor francês do século XIX. Em seu livro “Corcunda de Notre Dame” (o livro foi lançado em 1832, curioso que é o ano de emancipação de Barra Mansa) ele colocou um trecho chamado “Isto Matará Aquilo”, se referindo que a imprensa criada por Gutembert no século XV mataria a arquitetura. Lembrando que em 1838 é a primeira vez que se fala em patrimônio de um povo, com o Guizot, na França.

Prédio do Fórum e do Grupo Fagundes Varela. Desenho de Clécio Penedo - 1968

Antes os prédios eram construídos para darem leituras, conhecimentos, pensamentos, valores e símbolos a serem transformados em signos e significados por qualquer classe social, por qualquer pessoa alfabetizada ou não, havia a bizantina, a romana, a grega, etc. Já o livro daria a oportunidade de levar o conhecimento embaixo do braço. Não haveria mais a necessidade de ir a lugares para se conhecer o mundo. Para se ler o mundo. Gutemberg propôs com a prensa uma revolução tecnológica tão impactante quanto os tablets de hoje. Em outros níveis, em outras velocidades, mas o discurso há cinco séculos era muito próximo ao de hoje. Matar a arquitetura em nome de um saber mais fluido e transformador. O que há de pé que possa contar a história de nossa cidade? O que há publicado que possa contar a história da cidade? E quando falamos de publicação a pergunta se desdobra em: o que há publicado que possa ser acessível, que esteja em bom estado e que contenha informações relevantes?

Como Le Goff preconiza em seu livro “História e Memória”, as aproximações e os valores que nossa sociedade dá aos documentos e aos monumentos, a ideia de que todo documento é um monumento no sentido de construção e que todo monumento é um documento, no sentindo de que a História é tanto documento quanto monumento, pois ela também é uma construção. O historiador constrói tudo relativo à História. Os fatos históricos, as ações, as datas, as artes, a Cultura, tudo isso em si não é História. Barra Mansa carece de historiadores apaixonados que transformem nossos restos mortais em pertencimentos e ainda que possam ser acessíveis, que possam fruir, circular, se difundir.

Pesquisa ao acervo de Clécio Penedo. Foto: Gabs Ramos

Cena de Elevação da Vila à Cidade. 2014.

Foto:  Gabs Ramos

O que restará?! É sobre estes argumentos que entram nossos planos. Estamos a todo vapor com o Projeto Nasce Uma Cidade, que aos poucos vai se transformando numa plataforma de construção de redes que permitam a (re)construção da nossa memória. Nossas parcerias com o UBM, com o Instituto Clécio Penedo, o Projeto Música nas Escolas, o Projeto Dança e Magia, a Associação dos Sertanejos de Barra Mansa e Região,  a Academia Barramansense de História, a Casa de Cultura Arte In Foco, o SESI, o SESC, o NUEPAC, a UGB, a Fundação de Cultura e as demais secretarias municipais nos permitem agir mais efetivamente, pois todos estes atores sociais, juntos, legitimam esse processo de (re)construção desta memória.

Essa é uma maneira que encontramos de difundir este conhecimento e suprir essa “lacuna” da percepção do barramansense a respeito de onde viemos, quem somos nós e o que fomos.  O trabalho é ininterrupto, pois é uma arquitetura intangível, subjetiva, imaterial e simbólica. São valores que vão sendo construídos à medida que são consumidos. Aí entramos em outras questões como o consumo cultural, a espetacularização da cultura, a sociedade do espetáculo e as mídias de massa, mas isso é outro assunto. Quão rapidamente as informações e, principalmente, o conhecimento sobre esse assunto circula e se difunde pelas redes virtuais e reais? Há um problema nisso? Se houver, precisamos falar mais, discutir mais, conversar mais sobre o assunto para que de fato nossa memória não caia num esquecimento.

Foto:  Thiago Almeida

*Este texto é parte de uma entrevista cedida por Rafael Crooz ao estudante de arquitetura e urbanismo do UGB, Hugo de Freitas, por e-mail, no dia 05 de abril de 2015.

 

Cena na fachada do Clube Municipal. 2010 Foto: Divulgação

Cena Ponte Paraíba. 2010 Foto: Divulgação

bottom of page