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1o BATALHÃO DE INFANTARIA BLINDADA

Por Alejandra Estevez

 

Em 1950 foi criado o 1° Batalhão de Infantaria Blindada do Exército (1° BIB), na cidade de Barra Mansa, região sul do estado do Rio de Janeiro. Suas atividades estão muito interligadas à história da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), assumindo desde cedo a missão de “assegurar a ordem pública” na região, e intimamente vinculada à Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), sediada na cidade vizinha de Resende.

À medida que a CSN foi ganhando importância no projeto de desenvolvimento nacional, fez-se necessário um corpo militar próprio, que assumiu, desde então, uma função repressiva e disciplinadora. Sua primeira intervenção pública se deu em 1° de fevereiro de 1956, por ocasião do movimento grevista dos metalúrgicos de Barra Mansa e Volta Redonda, quando recebeu ordens do Comandante da AMAN, Gen. Júlio Telles de Menezes, para entrar de prontidão e recebeu reforços de outros pelotões na repressão aos grevistas metalúrgicos. Este episódio explicitou a função social que o 1° BIB assumiria dali por diante, caracterizando-se como a principal força repressiva para toda a região sul fluminense. A ação bem-sucedida rendeu agradecimentos do Gen. Antônio José de Lima Câmara, executor do Estado de Sítio em que a cidade se encontrava, pela “excelente cooperação prestada por este Comando no retorno à normalidade da situação em Barra Mansa, ressaltando o magnífico desempenho da missão que nos foi confiada”. A correspondência, enviada pelo General, evidencia as íntimas relações que começavam a ser delineadas entre poder municipal, empresarial e militar. Vale registrar que sua primeira ação pública voltou-se contra o movimento sindical e os trabalhadores metalúrgicos, categoria mais numerosa na região (devido à presença da CSN, Siderúrgica Barbará e Metalúrgica Barra Mansa). Esta seria a primeira de muitas ações de perseguição à classe trabalhadora, as quais só se intensificaram após o Golpe de 1964. No início da ditadura, o 1° BIB comandou o indiciamento e prisão dos operários da CSN, ao ponto de, dois meses depois do Golpe, já terem prendido todos os principais líderes sindicalistas. Ainda antes do AI-5, de dezembro de 1968, fora empreendida uma verdadeira “caça às bruxas” à Igreja de Volta Redonda, sobretudo à pessoa do bispo Dom Waldyr Calheiros. Padres e militantes católicos foram intimados, obrigados a prestarem depoimentos, presos e torturados, sempre sob as ordens do comandante do 1° BIB. Após 1969, a tortura foi institucionalizada no Batalhão e este se tornou um centro militar de tortura para opositores do regime, inclusive de maneira integrada ao sistema DOI-CODI que funcionava no Rio de Janeiro.

 

Os presos políticos que por lá passaram descreveram a rotina do batalhão, as técnicas de tortura utilizadas, identificaram os militares envolvidos e sua cadeia de comando. A compreensão da estrutura de funcionamento do 1° BIB e de sua rede de relações colaborou para montar o quebra-cabeça dos padrões repressivos em suas diferentes fases ao longo do regime militar no nível estadual e nacional, o que também chama a atenção por seu evento peculiar, inédito e único na história da ditadura civil-militar brasileira. A comprovação de que militares do batalhão haviam torturado quatro soldados até a morte levou à condenação judicial dos militares envolvidos por determinação da própria Justiça Militar. Em 1973, no auge da repressão política, a Justiça Militar condenava sete militares, sem distinção de patentes, e encerrava as atividades do 1° BIB.

 

Na sua sede instalou-se o 22° BIMtz que passou a comandar a repressão na região. Mas a prática de tortura não foi mais registrada neste novo comando. Hoje, o local pertence à Prefeitura de Barra Mansa e lá funciona o Parque da Cidade, destinado ao entretenimento da população local. Os shows ali realizados, bem como a feira anual de exposição agropecuária, atraem as novas gerações que não conhecem a história deste passado sensível e recente, contribuindo para uma “política do esquecimento”, conforme definida por Enrique Padrós (2009). Se mais esquecimento significa menos verdade, então o oposto também deve ser válido: mais conhecimento contribui para a consolidação da verdade, histórica e legalmente. Revelar estas histórias é importante porque ajuda na construção de uma concepção mais clara do que foram as violações praticadas no sul fluminense, de forma integrada ao contexto mais amplo. Contribui também para a consolidação da memória das vítimas do regime que foram sistematicamente silenciadas, durante o período autoritário, o que constitui uma injustiça histórica que necessita ainda ser reparada. As investigações sobre o 1° BIB assumem tal compromisso, tanto com as gerações perseguidas pela ação autoritária do Estado na região, como com as novas gerações que têm o direito a conhecer seu passado e posicionar-se no presente sobre a sociedade que pretendem habitar.

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